Seminário: ensinando e pesquisando macroeconomia com uma perspectiva de gênero

O encontro organizado pela CEPAL, PNUD e UDELAR em Montevidéu contou com uma conferência magistral da Professora Ozlem Onaran, da Universidade de Greenwich (Reino Unido).

ccc9d917-c5a3-3287-8241-a562f51f0066-1024x548.jpg

Em 19 e 20 de março de 2024, o Escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) no Uruguai, em cooperação com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Departamento de Economia da Universidade da República do Uruguai (UDELAR) e a Young Scholars Initiative do Institute for New Economic Thinking (YSI-INET), organizou o seminário e conversatório internacional sobre gênero e macroeconomia.

O encontro, que se realizou na Faculdade de Ciências Econômicas da UDELAR, contou com uma conferência magistral da destacada Professora Ozlem Onaran, da Universidade de Greenwich no Reino Unido, Diretora do Greenwich Political Economy Research Centre e codiretora do Institute of Political Economy, Governance, Finance and Accountability dessa universidade. A Professora Onaran conta com uma longa e prestigiosa carreira acadêmica e foi consultora de diversos organismos internacionais e agências da sociedade civil, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), a Foundation of European Progressive Studies, a Vienna Chamber of Labour, Austrian Science Foundation e a Hans Boeckler Foundation.

O foco central do seminário foi o estabelecimento de um diálogo com professores e estudantes da universidade com base no papel que os temas de gênero têm em macroeconomia, tanto no desenho de modelos teóricos como na formulação de políticas. Além de apresentar avanços no campo teórico, a Professora Onaran discutiu diversos resultados e simulações de política obtidas a partir desses modelos e com o apoio de diversas bases de dados macroeconômicos. Essas simulações indicam que uma política orientada a fortalecer a igualdade de gênero e o sistema de cuidados na infância poderia melhorar significativamente o desempenho de vários indicadores macroeconômicos, como o emprego formal, a distribuição da renda, a eficiência da política fiscal e a produtividade agregada.

Observou-se durante o seminário que os modelos macroeconômicos tradicionais, que frequentemente se apresentam como neutros do ponto de vista do gênero, não levam em conta a forma em que os papéis de gênero, as normas e as relações de poder configuram os processos econômicos. Em contraposição, os modelos estruturalistas com perspectiva de gênero incorporam e modelam as desigualdades de gênero em âmbitos como os mercados de trabalho, o trabalho não remunerado (tanto doméstico como de cuidado) e o acesso aos recursos e ao poder de decisão. Também permitem considerar como as políticas macroeconômicas, inclusive as políticas fiscais e monetárias, podem ter impactos diferentes sobre homens e mulheres.

O conversatório incluiu uma reunião com ampla participação de professores de economia da UDELAR, na qual se discutiu como os cursos de macroeconomia poderiam incorporar mais plenamente a importância da desigualdade de gênero no ensino, um aspecto muito pouco considerado nos livros de texto disponíveis, mas que gradualmente vai adquirindo importância.

A reunião com os professores foi uma experiência de diálogo franca e enriquecedora, que conseguiu reforçar a preocupação já existente na UDELAR em oferecer uma visão mais ampla e pluralista do ensino da macroeconomia, tanto nos estudos de pré-graduação como de pós-graduação. Destacou-se também a ampla presença de jovens pesquisadores e jovens professores do interior do Uruguai que participaram do workshop. Para isto foi fundamental contar com o apoio de YSI-INET e a sinergia entre as várias instituições que participaram da organização deste encontro.