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10/07/2024 | News release | Archived content

O resgate do 'ouro branco': agricultores indígenas da Colômbia recuperam o cultivo de algodão

07/10/2024

Com o apoio da cooperação entre a FAO e os governos do Brasil e da Colômbia, a família indígena Timote Chila combina práticas agrícolas ancestrais, técnicas sustentáveis e tecnologias para recuperar o solo e aumentar a produção de algodão em Tolima.

No município colombiano de Coyaima, departamento de Tolima, na vereda Lomas de Guaguarco, vivem Eduvin Timote, sua esposa Alix Chila Yara e seu filho Armando Timote Chila, agricultores familiares indígenas da etnia Pijao. Eles são o exemplo concreto de como o intercâmbio de conhecimentos, as boas práticas agrícolas e a cooperação entre países podem contribuir para uma melhor produção e uma vida melhor para as famílias rurais.

Em sua fazenda, localizada a quase 200 quilômetros da capital Bogotá, a família Timote Chila cultiva o algodão como sinônimo do resgate de uma tradição ancestral, onde as técnicas agrícolas eram transmitidas de geração em geração, em um passado em que esse cultivo era considerado o "ouro branco".

Desde 2017, o agricultor familiar, que é vereador pelas comunidades indígenas e governador do "cabildo" indígena Guaguarco Palmarosa, decidiu se unir ao projeto +Algodão Colômbia, uma iniciativa de cooperação Sul-Sul trilateral desenvolvida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADR) da Colômbia, no âmbito do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO.

Por meio do trabalho conjunto entre a FAO e os governos do Brasil e da Colômbia, Eduvin e Alix converteram um hectare de sua fazenda em uma Unidade de Cultivo Piloto (UCP), chamada Los Braciles; um espaço onde os antigos costumes agrícolas se fundiram com práticas que respeitam o meio ambiente e inovações modernas, com ensaios, implementação e validação de diversas técnicas e boas práticas agrícolas, além do uso de tecnologias adaptadas.

Ano após ano, o cultivo na fazenda piloto foi se transformando. A terra, antes esgotada, começou a se regenerar, e o algodão passou a crescer, ocupando todo o hectare. Graças à assistência técnica prestada, a família Timote Chila aprendeu a recuperar a qualidade do solo com o cultivo de algodão em associação com o gergelim. Também foram desenvolvidas boas práticas para a redução do uso de pesticidas por meio do controle biológico de pragas.

A produção na parcela demonstrativa foi duplicada, passando de 1,5 tonelada por hectare de algodão em semente na primeira temporada plantada (2018) para três toneladas por hectare na temporada de 2021 e outras três toneladas em 2024.

Os aprendizados obtidos na parcela piloto também foram aplicados nas outras oito hectares que fazem parte de sua propriedade, o que gerou uma colheita de mais de 20 toneladas. "O algodão gera emprego para nossos companheiros", afirmou Eduvin.

Mas além dos números, o que realmente emociona o agricultor é o impacto cultural de seu trabalho com o algodão. "Estou resgatando nossa cultura", destacou ao ver como seu trabalho ajuda a preservar as tradições agrícolas dos indígenas Pijao, tão ligadas ao cultivo do algodão.

Além disso, a família também garantiu a segurança alimentar por meio do cultivo de milho em associação com o algodão, implementando uma horta caseira para o autoconsumo de hortaliças, gerando alimentos para sua família. "Graças ao projeto, hoje cultivo sem produtos químicos. Nós trabalhamos, por exemplo, com pimenta, sabão e alho", comentou orgulhosamente o agricultor.

O engenheiro Ruben Perdomo, técnico de campo da FAO na região de Tolima-Huila, explica que foram utilizados produtos caseiros para o manejo e a prevenção de doenças na parcela. "Hoje, usamos extratos de plantas e alguns produtos de baixo impacto para as pessoas, as abelhas e o meio ambiente".

Também foi implementado o uso de uma semeadora rotativa, o que permitiu a redução dos custos de plantio e o aumento da produção em comparação aos sistemas tradicionais.

A cooperação entre a FAO e os governos do Brasil e da Colômbia também apoiou o fortalecimento de capacidades por meio de visitas técnicas e capacitações, como dias de campo, organizadas pela Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (AGROSAVIA), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o Serviço Nacional de Aprendizagem (SENA) de Espinal, da Colômbia, por meio das quais a família Timote Chila e sua comunidade conheceram novas práticas e tecnologias.

O projeto se estendeu aos amigos e familiares de Eduvin e Alix, que também aderiram ao cultivo de algodão, vendo nessa cultura uma oportunidade para melhorar suas vidas, o que motiva sua comunidade a plantar algodão. Para o agricultor, o apoio da cooperação foi muito importante: "nos deu boas habilidades para nosso campo e para nossos indígenas", comentou Eduvin.

Por sua vez, Alix, sempre à frente de sua loja, transformou o local em um ponto de encontro para compartilhar conhecimentos. A comunidade se reúne ali para discutir as boas práticas agrícolas, as novas técnicas aprendidas e os desafios para o acesso a sementes mais baratas e os preços flutuantes do mercado de algodão.

A família não apenas melhorou sua produção, mas também sua qualidade de vida. Seu filho estuda na escola agrícola do SENA, em Espinal, motivado pelo exemplo que viu no projeto, esperando servir sua comunidade. Com os rendimentos obtidos, eles renovaram sua casa e melhoraram a cozinha.

Graças à cooperação Sul-Sul, as práticas ancestrais da etnia Pijao foram revitalizadas como parte do trabalho de resgate do cultivo da fibra, desde as mãos dos povos originários que veem no algodão uma tradição transmitida entre gerações.

Com o olhar firme no futuro, Eduvin e Alix sabem que o projeto plantou neles e em sua comunidade algo mais do que sementes: o resgate do ouro branco.