11/01/2024 | Press release | Distributed by Public on 11/01/2024 06:39
Adriely Viana - Ascom SSPDS - Texto
Cícero Oliveira e Denilson Araújo - SSPDS - Fotos e Vídeo
Dentre as coisas que sempre podemos levar conosco, algumas delas são o conhecimento, o respeito e a busca por dias melhores. Tudo isso pode ser compartilhado por meio da educação, que é capaz de abrir caminhos, apresentar novas possibilidades e ser uma força ativa na mudança de vida de muitos jovens. Foi sonhando em transformar essas vidas, que os profissionais do 17° Batalhão da Polícia Militar do Ceará (PMCE) desenvolveram projetos que reforçam a importância do ensino, do respeito e da cultura de paz.
Atuando nos bairros Conjunto Ceará e Bom Jardim, na Área Integrada de Segurança 2 (AIS 2), o objetivo dos projetos é criar uma maior aproximação com a comunidade e oferecer um futuro melhor para as crianças e adolescentes que moram na região. É justamente por acreditar que a educação transforma, que a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), neste mês de outubro, em alusão ao Dia do Professor, apresenta as ações de mudança social realizadas por profissionais de segurança do Ceará.
Quando adolescente, o sonho da Marina Rodrigues era ser policial militar. Em um primeiro momento, os caminhos a levaram para a pedagogia, profissão que fez o encanto por ensinar surgir. Com a dedicação de toda professora, Marina se viu conquistando também o sonho de proteger a população cearense. "Logo quando eu entrei na 2ª Companhia do 17º BPM, que é um batalhão engajado com projetos sociais e tem como foco lidar com o público diretamente dentro das comunidades, pensamos em aproveitar minha formação pedagógica e começar um projeto de reforço escolar", contou ela.
E foi assim que, em junho de 2023, surgiu o projeto "Educação e Paz", em um residencial no Grande Bom Jardim, em Fortaleza. Presente na comunidade, onde os desafios são constantes, o papel de pessoas como a "Tia Marina", como é comumente chamada, vai além de combater o crime. Ela também combate as poucas oportunidades, mostrando que uma simples atitude pode mudar o futuro de muita gente.
"É um trabalho bem desafiador e enriquecedor, tanto por ser policial militar, como por ser professora. No projeto, nós mantemos contato direto com a comunidade e essa aproximação ajuda a reformular a ideia de que a Polícia Militar é um órgão distante da população", relata a professora.
As crianças e os adolescentes que estudam do 1° ao 9° ano do ensino fundamental são atendidos com aulas três vezes na semana, nos turnos da manhã e da tarde. "Em média, são cerca de 40 crianças e adolescentes que participam do projeto. Com idades de 6 a 13 anos, em sua maioria. Oferecemos reforço de todas as matérias, com apoio nas atividades escolares diárias, na leitura e na escrita também", concluiu.
Para Caroline Paiva, que tem 11 anos, e está no 6° ano do ensino fundamental, o reforço escolar possibilitado de forma gratuita pela PMCE, tem transformado sua realidade e trazido bons resultados na escola. "O projeto é bom para as pessoas que não tem condições de pagar um reforço particular. Eu melhorei em matemática, nas atividades, na minha leitura, em quase todas as coisas da escola", conta a menina, que destaca com determinação que seu sonho, que agora pode ser reforçado com a ajuda nos estudos, é "se formar e virar doutora".
Não são apenas crianças e adolescentes que são ensinados pela professora Marina. Em algumas aulas, temos a senhora Venerinda Ferreira, de 63 anos, que iniciou na Educação de Jovens e Adultos (EJA) há poucas semanas e pediu para participar do projeto, pois estava tendo muita dificuldade. "Aprender a ler é um sonho meu. Eu sempre achei muito interessante a pessoa chegar nos locais e saber ler uma placa, saber ler uma informação", comenta ela, agradecendo a paciência da professora e indicando que está animada para logo conseguir ler suas primeiras frases.
A entrada do projeto nessa região, que é considerada vulnerável, traz para a soldado uma sensação de busca por equidade e igualdade. "Nós sabemos que esse é um trabalho lento, mas que devemos manter na ativa para poder garantir um futuro justo para essas crianças. Se nós observarmos pelo lado real, se tivermos um olhar mais humano, a gente vai ver a transformação que é possível fazer na vida dessas crianças. Nós trazemos para o local que eles vivem, novas possibilidades", reflete 'Tia Marina'.
Dentre as aulas no espaço montado, exclusivamente, para que as crianças possam estudar, mais um agradecimento fica por conta da senhora Lucia Batista, que tem três filhos que participam do projeto. "Eu comecei a trabalhar com dez anos e nunca tive a oportunidade de estudar. O que eu nunca tive, eu quero que os meus filhos tenham. Eu não sei ler, mas quero que eles estudem. Essa é a única coisa que eu posso deixar pra eles, que é mostrar que o estudo é importante. Aqui no projeto, me sinto ajudada e agradeço porque eles estão aqui", relata emocionada.
A soldado Marina, ciente do agradecimento, reforça o quanto é importante saber que as famílias têm valorizado o trabalho efetuado no local. "Existem diversas outras profissões que recebem uma valorização maior que a nossa, mas todas essas profissões tiveram um professor. Um dia, alguns dos meus alunos do projeto poderão estar formados em alguma área, seja na segurança pública ou na educação, por exemplo, e vão lembrar que eu fui a professora deles. Que esse projeto ajudou quando acreditava-se que não tinha capacidade ou oportunidade suficiente para enfrentar os obstáculos. Para nós, é muito satisfatório saber que contribuímos de forma positiva para mudar o futuro de cada uma dessas crianças", finalizou.
"Esforçar-se para a formação do caráter, criar o intuito de esforço, conter o espírito de agressão, respeito acima de tudo e fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão", esses são os lemas do karatê, narrados em alto e bom som por todos os alunos que se encontram no tatame para o início da aula.
O "Lutando pela Paz", projeto de artes marciais que pertence ao 17° BPM, surgiu em 2016 e, desde então, já contou com cerca de três mil alunos. "Quando iniciamos o projeto, além das aulas de karatê, que são realizadas aqui no Batalhão, também oferecemos aulas em escolas públicas da região. Essa foi uma forma de captar novos alunos e ocupar mais espaços dentro da comunidade", comenta o sargento Heldo, formado em Educação Física e professor de karatê.
O intuito é acolher e compartilhar o que o karatê pode trazer para a vida desses meninos e meninas. "Para uma melhor formação dessas crianças, queremos que elas entendam o sentimento de respeito e de confiança. Um dos nossos sonhos é fazer com que, futuramente, os alunos comecem a dar aulas nas comunidades, para que eles sejam multiplicadores do projeto e dessa busca por uma sociedade melhor ", afirma.
"Aqui não impomos nenhuma limitação, esse é um projeto totalmente inclusivo e gratuito. Temos alunos no espectro autista, que são muito bem recebidos e acolhidos. As aulas são uma troca de experiências e conhecimentos. Eu ensino mas, ao mesmo tempo, também aprendo com os alunos e com os pais, que nos dão força e que trabalham juntos conosco para ajudar no desenvolvimento pleno dessas crianças", comenta o sargento.
É no Espaço das Artes Marciais, no Complexo Esportivo do Bom Jardim, que os alunos se reúnem para praticar judô. Exemplo de quem participou de projetos sociais e que teve no esporte o norte para se desenvolver como um bom cidadão, o cabo Ávila atua como policial militar e como professor para esses jovens. "O esporte é uma ferramenta de construção. Assim como um dia eu fui auxiliado, aqui os jovens estão fazendo amigos, desenvolvendo a sociabilidade, valores, disciplina, respeito, estão aprendendo a saber a hora de agir e o momento em que devem ficar mais no seu próprio espaço", relata.
De acordo com Antônio, de 12 anos, fazer parte da equipe de judô o ensina muito sobre educação. "Para algumas pessoas, o projeto não é muito grande. Mas para mim, foi uma coisa boa. Antes de eu entrar aqui, eu era uma pessoa muito inquieta e ansiosa. E agora, criei muita educação, perdi a ansiedade e fiquei menos ansioso. O sensei, que é o nosso professor, é muito esperto e nos ajuda muito. Eu não tinha como comprar o kimono e foi o sensei quem me deu", conta Antônio, que reforça que ser campeão e medalhista de judô está entre seus sonhos.
Percebendo que levar esporte para a juventude é uma forma de combater a criminalidade na região, também foi criado o projeto "Craques da Paz". Aproveitando a formação de alguns membros do 17° batalhão em Educação Física, o projeto reúne crianças e adolescentes para treinos de futebol.
Conforme o subtenente Rogério Guerra, um dos profissionais que está à frente do projeto de futebol, o foco principal é perceber como atuar com esse grupo vulnerável, levar oportunidades para eles e possibilitar, por meio do esporte, que esses jovens sonhem com algo a mais. "Nós temos como meta, além da formação do atleta, repassar a prática de valores essenciais para a vida: respeito, disciplina e foco em alcançar objetivos de sucesso na vida. Independentemente de algum deles se tornar atleta ou não. Hoje já temos alguns jovens colhendo bons frutos, como o caso de dois participantes do projeto que foram convidados a participar da Taça das Favelas, em São Paulo", conta ele.
No contato e acompanhamento do cotidiano desses jovens, os policiais militares também perceberam a necessidade de prestar alguns outros serviços, como auxiliar na inscrição de cursos profissionalizantes, na procura por estágios e em tirar documentos. "Além de outras ações sociais como palestras nas escolas públicas, em que falamos sobre o não envolvimento com as drogas, as possibilidades que eles podem conseguir seguindo um bom caminho e, caso tenham interesse, como funciona para ingressar na PMCE", comentou.
"Quando torna-se possível que uma pessoa em situação vulnerável, absorva as boas práticas de educação, receba bons conselhos e desenvolva conceitos valorosos para toda a vida, isso é um ganho substancial para toda a sociedade. Por isso, estamos todos unidos para dar seguimento em cada um dos projetos desenvolvidos no 17°bpm", finalizou o subtenente.
Nos livros e nos filmes, vemos histórias de heróis com capas e super poderes que mudam o mundo. Aqui, na vida real, temos heróis fardados que mostram que segurança e educação são pilares fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É no avanço diário, a cada tarefa concluída com sucesso, nova faixa ou movimento acertado durante os treinos, que essa juventude pode almejar novos voos e ir em busca de caminhos mais prósperos. Ao final de tudo, o que realmente importa, é que o temos de mais raro para dedicar ao outro: o nosso tempo.