11/06/2024 | Press release | Archived content
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) saúda a conclusão do inquérito da Polícia Federal sobre os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, que resultou no indiciamento do suposto mandante do crime, Rubens Villar - conhecido como "Colômbia" - junto com outros oito suspeitos. Embora a acusação seja um passo importante, a RSF ressalta que a impunidade só terminará quando todos os responsáveis forem plenamente julgados.
A conclusão do inquérito sobre os assassinatos brutaisde Dom Phillips e Bruno Pereira, com o indiciamento de 9 pessoas, incluindo do suspeito de ser o mandante do crime, representa um avanço importante. A Polícia Federal concluiu que os assassinatos foram motivados como uma retaliação às atividades fiscalizatórias de Bruno Pereira, defensor dos direitos indígenas e da preservação ambiental no Vale do Javari. Segundo o relatório final, Rubens Villar, chefe de uma operação ilegal de pesca e extração de madeira, forneceu munição aos assassinos e financiou despesas legais de um dos primeiros suspeitos detidos.
Dom Phillips, jornalista experiente que colaborava com The Guardian, The New York Timese The Washington Post, estava na Amazônia para coletar entrevistas para um livro sobre a região. Ele foi acompanhado por Bruno Pereira, que estava de licença da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), após ter sido exonerado do cargo de coordenador-geral de Indígenas Isolados, e estava trabalhando com União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA).
A RSF e seus parceiros ressaltam constantemente a importância de não tratar a morte de Dom Phillips como uma simples consequência colateral da violência dirigida a Bruno Pereira. Ambos foram vítimas de uma rede criminosa que buscava silenciar quem denuncia a destruição da floresta e as atividades ilegais que prevalecem na região.
"O indiciamento do mandante do crime é um marco importante, mas é apenas o começo. A justiça para Dom Phillips e Bruno Pereira só será alcançada quando todos os envolvidos forem de fato responsabilizados. O assassinato de Dom não pode ser tratado como dano colateral. Ambos foram deliberadamente alvos de uma rede criminosa que opera com impunidade na Amazônia. Medidas imediatas e eficazes são necessárias para proteger os jornalistas da região e evitar novas tragédias. Pedimos às autoridades que tomem medidas concretas para fortalecer a proteção aos jornalistas e defensores ambientais, melhorar as práticas investigativas para crimes contra a imprensa e garantir um ambiente mais seguro para o trabalho jornalístico na Amazônia."
Artur Romeu, Diretor do Escritório para América Latina da RSF.
O compromisso da RSF com a busca por justiça
Desde o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira em junho de 2022, a RSF tem exigido justiçae medidas protetivas mais fortes. Em colaboração com outros grupos da sociedade civil, a RSF recorreu à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o que resultou na criação de um grupo de trabalho conjuntocom o governo brasileiro. Formado em dezembro de 2023, esse grupo implementa e supervisiona medidas eficazes para combater a impunidade e garantir a segurança dos jornalistas na região.
Jornalismo em chamas
Apesar desses esforços, o progresso é lento. A RSF registrou 85 ataques a jornalistas na Amazônia entre junho de 2022, quando Dom Phillips e Bruno Pereira foram assassinados, e junho de 2024. Esses ataques incluem ameaças de morte, violência física, agressões armadas e assédio judicial. Até que as medidas de proteção prometidas sejam plenamente implementadas, muitos jornalistas e defensores ambientais continuarão em risco.
A grave situação na Amazônia é detalhada no relatório da RSF, "Amazônia: Jornalismo em Chamas", publicado em setembro de 2023. O relatório lança luz sobre a crescente violência enfrentada por jornalistas que reportam sobre crimes ambientais e sobre a resposta insuficiente das autoridades brasileiras.
O compromisso inabalável da RSF com a liberdade de imprensa significa que continuará a trabalhar com parceiros nacionais e internacionais para garantir que os assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira resultem em mudanças sistêmicas, assegurando que crimes como esses nunca fiquem impunes.