Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

12/04/2023 | Press release | Distributed by Public on 12/04/2023 18:19

Pesquisa indica semeadura direta com 25% de eficácia de germinação para mudas de espécies arbustivas e arbóreas para restauração florestal no Rio Grande do Sul

Pesquisadores realizam estudo na identificação de mudas de espécies florestais nativas, em áreas em processo de restauração, com uso da tecnologia de semeadura direta, que garante 25% das sementes germinadas. Um guia pioneiro para o RS é lançado como apoio para técnicos e produtores ao trazer a identificação de 120 espécies para restauração de ecossistemas florestais e savonoides. O País tem uma meta de restauração dessas espécies que gira em torno de 60 toneladas por ano.

Atualmente, a infraestrutura instalada tem capacidade de atender uma demanda estimada de 29 toneladas/ano, o que equivale a dizer apenas a metade da estimativa de volume de sementes necessária para o Brasil cumprir suas metas de restauração nos próximos cinco anos. Para o País é estimado a necessidade de restauração de 21 milhões de hectares para implementação dos instrumentos que compõem a política ambiental nacional - recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) - previstas na Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei n° 12.651 de 2012). Para além do cumprimento dos percentuais mínimos de restauração, o Brasil possui o compromisso de promover políticas, programas e ações indutoras da recuperação de florestas e demais formas de vegetação nativa (PLANAVEG - Decreto n° 8.972 de 2017). A Organização das Nações Unidas declarou o período 2021-2030 a Década da Restauração de Ecossistemas (resolução ONU A/RES/73/284), nesse período, a meta é restaurar 350 milhões de hectares no mundo.
Os pesquisadores do Grupo de Manejo e Restauração da Vegetação Nativa da Embrapa Clima Temperado recomendam que a contribuição para atingir metas em grande escala está vinculada à restauração efetiva, que depende em grande parte da escolha de técnicas compatíveis com diferentes cenários em escala local. Segundo a equipe, existem diversas estratégias de restauração ecológica, as quais podem ser divididas em dois grandes grupos: técnicas de restauração ativa e técnicas de restauração passiva. Essas estratégias diferenciam-se basicamente pela forma de intervenção humana no processo de sucessão da vegetação.

BOX: A restauração ativa consiste na aplicação de diferentes técnicas de manejo (por exemplo: semeadura direta, plantio de mudas em área total) para a condução da sucessão vegetal; a restauração passiva baseia-se na capacidade de auto regeneração da vegetação, sendo que a intervenção humana ocorre apenas no diagnóstico e controle das causas de degradação do ambiente (controle de fogo, do gado, da agricultura, entre outros).

É elevado o custo efetivo da restauração ativa da vegetação durantes os primeiros anos (coleta de sementes, plantio de mudas, controle da matocompetição, etc.) e assim a condução da sucessão vem ganhando bastante espaço, devido ao aparente menor custo de aplicação, principalmente quando o objetivo é restaurar a vegetação em grandes áreas. Dentre as diferentes técnicas de restauração ativa, o método mais difundido para a recuperação de áreas degradadas ainda é o plantio de mudas produzidas em viveiro, porém esse método é relativamente caro, trabalhoso e geralmente lento. Uma alternativa possível, porém, ainda pouco explorada para contornar esse problema, é a semeadura direta de sementes (direct seeding ou direct sowing). Esse método tem como vantagens, o baixo custo de implantação, principalmente quando o objetivo é recuperar grandes áreas e a baixa necessidade de mão de obra especializada. No entanto, a baixa germinação das sementes, o crescimento lento das mudas, quando comparado ao de mudas oriundas de viveiros, a predação das sementes e a competição com gramíneas e outras espécies espontâneas podem ser destacadas como as principais desvantagens. Além dos elevados custos financeiros associados às ações de restauração ativa em larga escala, independentemente do método selecionado, em comparação à restauração passiva, há riscos intrínsecos a essa estratégia. Entre os principais, pode-se citar a disponibilidade de sementes com qualidade e em quantidade.

Um dos integrantes do Grupo de Manejo e Restauração é o pesquisador Ernestino Guarino que fala que o principal método usado é o plantio de mudas. Mas nos últimos anos, várias ações de restauração por meio de semeadura direta vêm sendo feitas em todos os ecossistemas florestais, ou não, brasileiros. Dados do Projeto SAFLegal demonstram que após 12 meses da semeadura, aproximadamente 25% das sementes germinaram, garantindo uma densidade de 2.000 mudas por hectare. Realizado de forma consorciada com grãos, em sistemas agroflorestais, o custo do processo de restauração é de 75% inferior ao método tradicional (plantio de mudas em área total).

"É fundamental não apenas o apoio à constituição de redes coletoras de sementes e viveiros, mas também conhecer e estimular a restauração passiva, integrando as estratégias no nível da paisagem para se obter efetividade máxima com menor custo das atividades de restauração", falou. O produtor não recebe recursos financeiros diretamente por optar por essa tecnologia do plantio direto de sementes de espécies, mas há um ganho na melhoria da água devido a restauração das nascentes. Além disso, é uma obrigação legal de todos os agricultores conservarem as Áreas de Reserva Legal (RL) e Proteção Permanente (APP), mantendo o mínimo exigido na legislação.

"Para se ter qualidade de mudas e sementes é importante levar em conta que essa garantia não está apenas nas melhores técnicas de coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes e produção de mudas de essências florestais, mas também pela correta identificação dessas espécies", lembrou Ernestino Guarino.

Ele relatou que os pesquisadores observaram que os diferentes atores envolvidos no processo de plantio de espécies florestais nativas no Rio Grande do Sul, apresentam dificuldades para identificar sementes e mudas, incorrendo muitas vezes em erros que podem comprometer ou inviabilizar o processo de restauração florestal. "As espécies são parecidas, porém com demandas de solo e clima diferentes", destacou. Conforme o pesquisador, quando há erros de identificação de mudas de espécies, esses podem causar grandes problemas na restauração, que além de uso de espécies não adaptadas a solo e clima local, podem ser usadas espécies exóticas invasoras, causando prejuízos econômicos e ambientais.

Um guia de identificação de espécies arbustivas e arbóreas para os biomas Pampa e Mata Atlântica é lançado neste dia 7 de dezembro, durante a realização do XVIII Dia de Campo sobre Agroecologia e Produção Orgânica, II Feira da Agroecologia, I Oficina Pedagógica, Mostra Cultural de Arte e Dança e Reunião Regional de Organizações de Controle Social, na Estação Experimental Cascata, no interior de Pelotas/RS. "Este é o primeiro para mudas dessas espécies arbóreas nativas do Estado, existem outros trabalhos para sementes de arbóreas, mas é o primeiro também com a linguagem adaptada para o público técnico e agricultores", disse.

O Guia de Identificação de Mudas de Espécies Arbóreas para Restauração Florestal do Rio Grande do Sul, de forma ilustrada e didática, é uma publicação que apresenta características-chave para identificação de mudas e sementes das principais espécies arbustivas e arbóreas indicadas para restauração florestal. Nele se encontram uma descrição dos biomas e as regiões onde se realizam a restauração florestal, a forma de tipificação das sementes e sua forma de armazenamento, a própria descrição da seleção das espécies identificadas, acompanhada por suas características e imagens. "Além de apoiar na identificação das sementes que serão plantadas e das mudas que por ventura serão plantadas (adquiridas em viveiros), o Guia ajudará também na identificação das mudas que germinaram em áreas em processo de restauração assistida, ou não - restauração passiva", explicou Guarino.

Ao todo são 181 plantas indicadas para restauração, resultados disponíveis no site webambiente (https://www.webambiente.cnptia.embrapa.br/) e na publicação (https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1098234/especies-de-plantas-prioritarias-para-projetos-de-restauracao-ecologica-em-diferentes-formacoes-vegetais-no-bioma-pampa-primeira-aproximacao são 120 espécies recomendadas para restauração de ecossistemas florestais e savanoides. Segundo o Grupo de Manejo e Restauração há uma edição ampliada do Guia sendo trabalhada, onde será incluída fotos de todas as espécies.

É possível destacar, ainda, o envolvimento de duas tecnologias neste Guia: a realização de cortinas vegetais, desenvolvida com o apoio da Corsan e do CNPq e a semeadura direta de sementes de espécies arbóreas de forma consorciada com grãos, sendo esta financiada 100% por recursos da Embrapa, via o projeto SAFLegal.

O Guia servirá também para restauradores em geral, técnicos de prefeituras, extensionistas rurais, estudantes, engenheiros florestais, agrônomos e principalmente agricultores interessados no tema.