ECLAC - Economic Commission for Latin America and the Caribbean

08/01/2024 | Press release | Distributed by Public on 08/01/2024 09:11

CEPAL: O investimento estrangeiro direto na América Latina e no Caribe diminuiu 9,9% em 2023, mas o montante recebido é maior do que a média da última década

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1 de agosto de 2024|Comunicado de imprensa

Para promover os efeitos positivos do IED nas economias da região, um novo relatório propõe uma série de diretrizes para a formulação e o fortalecimento das políticas de atração de investimentos e para a construção de estratégias territoriais integradas às políticas de desenvolvimento produtivo.

Em um contexto de queda nos fluxos globais de investimento estrangeiro direto (IED) pelo segundo ano consecutivo, 184,304 bilhões de dólares de IED entraram na América Latina e no Caribe em 2023, um valor 9,9% menor do que o registrado em 2022, mas ainda acima da média da última década, informou hoje a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

O peso dos fluxos de investimento estrangeiro direto no PIB da região também diminuiu: em 2023, representou 2,8%. No entanto, a participação da região nos fluxos globais de IED (14%) foi maior do que a média da década de 2010 (11%), de acordo com o relatório anual O Investimento Estrangeiro Direto na América Latina e no Caribe 2024, divulgado em uma coletiva de imprensa em Santiago, Chile.

A queda nos fluxos de IED recebidos pelo Brasil (-14%) e pelo México (-23%), os dois países com a maior participação no total de fluxos, explica em grande parte o resultado da região, segundo o estudo.

Na América do Sul, o Peru também registrou um declínio bastante acentuado nos fluxos de IED (-65%), enquanto a Argentina e o Chile registraram um aumento (57% e 19%, respectivamente).

A América Central e o Caribe também receberam mais investimentos do que em 2022 (12% e 28%, respectivamente). Na América Central, quase todos os países receberam mais IED, com destaque para o crescimento na Costa Rica (28%) e Honduras (33%), enquanto o aumento no Caribe se deve principalmente a maiores entradas na Guiana (64%) e na República Dominicana (7%).

"O investimento estrangeiro direto pode ajudar a enfrentar, em particular, a primeira das três armadilhas de desenvolvimento em que a América Latina e o Caribe estão imersos: a armadilha da baixa capacidade de crescimento. Isso requer políticas de atração de investimentos que enfatizem não apenas a atração, mas também o que acontece após o estabelecimento, e que conectem essas políticas com as políticas de desenvolvimento produtivo dos países e de seus territórios. Tudo isso requer o fortalecimento das capacidades técnicas, operacionais, políticas e prospectivas (TOPP) nessa área", disse o Secretário Executivo da CEPAL, José Manuel Salazar-Xirinachs, ao apresentar as principais conclusões do estudo.

Do ponto de vista setorial, 46% do investimento estrangeiro direto em 2023 foi direcionado a serviços, embora esse setor tenha recebido investimentos menores do que em 2022 (-24%). O investimento em manufatura cresceu novamente pelo segundo ano consecutivo (+9%), com aumentos na América Central, Colômbia, México e República Dominicana. Os influxos no setor de recursos naturais também cresceram (+16%), apesar do declínio no Brasil.

Em termos de componentes do IED, o reinvestimento de lucros aumentou 15%, respondendo por quase metade dos influxos em 2023, enquanto os influxos de capital e os empréstimos entre empresas caíram 22% e 36%, respectivamente.

Os Estados Unidos e a União Europeia foram os principais investidores, o primeiro com 33% do total e a UE com 22% (excluindo a Holanda e Luxemburgo). A China, por sua vez, reduziu seus investimentos na região.

Por outro lado, o investimento externo da região (das empresas "translatinas") caiu 49%, retornando aos níveis normais após o pico atingido em 2022.

Com poucas exceções, o IED continua a se concentrar em setores e países que oferecem recursos naturais ou mão de obra relativamente barata, diz a CEPAL. O objetivo deve ser agregar mais valor, no caso dos recursos naturais, bem como diversificar e aumentar a escala para setores com mão de obra mais qualificada, e aumentar as repercussões tecnológicas e os vínculos produtivos decorrentes desse investimento, diz o órgão regional das Nações Unidas.

No segundo capítulo do relatório são apresentadas 17 diretrizes para a formulação e o fortalecimento de políticas para atrair o IED como um fator para o desenvolvimento produtivo sustentável e inclusivo na região.

Para isso, são analisadas as experiências das Agências de Promoção de Investimentos de oito países da América Latina e do Caribe (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Panamá, República Dominicana e Uruguai), bem como as iniciativas nesse campo de países como Malásia, Polônia, África do Sul e Turquia, entre outras fontes de informação.

Na mesma linha, e dada a importância de dar um enfoque territorial aos esforços de desenvolvimento produtivo, o terceiro capítulo do documento, baseado em estudos de caso da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, oferece seis diretrizes para promover o investimento estrangeiro direto subnacional.

Além de formular políticas de atração de investimentos como parte das políticas de desenvolvimento produtivo, é essencial que os países baseiem sua implementação em arranjos de governança de alto nível político e fortaleçam suas capacidades TOPP, destacou José Manuel Salazar-Xirinachs. Da mesma forma, é urgente envolver atores dos setores público e privado, da academia e da sociedade civil na construção e implementação de estratégias de IED para garantir a legitimidade, a cooperação e aproveitar os benefícios pós-estabelecimento.

É necessário fornecer às Agências de Promoção de Investimentos recursos, pessoal qualificado e estabilidade na continuidade dos esforços para promover os investimentos de forma eficaz; implementar um sistema rigoroso de monitoramento e avaliação de políticas, incentivos e condicionalidades; desenvolver políticas e projetos que fortaleçam o ambiente de negócios, incluindo incentivos bem elaborados e a promoção de iniciativas de clusters que abordem gargalos específicos; e promover atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), capacitação profissional e desenvolvimento de fornecedores, entre outros.

Também é importante concentrar a atração de IED em setores ou áreas consideradas prioritárias para o desenvolvimento produtivo sustentável na região. A CEPAL propôs pelo menos 14 setores propulsores na indústria, nos serviços e nas áreas relacionadas ao Grande Impulso para a Sustentabilidade. Esses setores incluem o setor farmacêutico e de ciências da vida; o setor de dispositivos médicos; a exportação de serviços modernos habilitados para TIC; a sociedade do cuidado; o governo digital; a transição energética; a eletromobilidade; a economia circular; a bioeconomia; a gestão sustentável da água; e o turismo sustentável, para citar alguns. É importante que os esforços de atração de IED tenham uma abordagem setorial e de cluster para maximizar os benefícios.

A existência de infraestrutura, capacidades produtivas, habilidades e um conjunto de atividades complementares ao longo da cadeia de valor tem se mostrado essencial para as decisões de investimento e para os benefícios subsequentes, afirma a CEPAL.

Por fim, as agendas nacionais e territoriais devem ser apoiadas por arranjos institucionais envolvendo várias partes interessadas e vários níveis que permitam aproveitar as sinergias e minimizar duplicidades, fortalecendo as capacidades e a coordenação entre os agentes.